segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Entretanto, algumas pessoas costumam dizer-lhes que se não jogassem lixo nas ruas, os garis não teriam uma profissão e não existiriam.
“Nós não podemos fazer tudo sozinhos. E quando não estamos limpando? A cidade vai ficar suja? Se não colaborarem é isso que vai acontecer”, estima Cícero.
Algumas reações dos varredores mostram a insatisfação com a falta de educação e o preconceito enfrentado por eles nas ruas. Histórias contadas por Manuel são de impressionar. Certo dia, ele estava com mais cinco colegas de trabalho na rua 14 de Julho, no centro da cidade, limpando a sujeira de um dia inteiro, quando um “filhinho de papai”encostou o carro e deu uma cintada nas costas do seu amigo, arrancou com o carro e foi embora. Situações humilhantes como essa não são mais novidade, segundo Manuel.
“Somos chamados de fedidos, quase sempre algumas pessoas passam pela gente e tampam o nariz. As pessoas passam e gritam:oh seus cheirosos! E ainda tem gente que atravessa a rua para não passar do nosso lado”, lamenta Cícero.
Apesar disso, com muito bom humor o trio conta várias situações consideradas por eles engraçadas, como a vez em que Cícero foi “cantado” por um travesti. “Ele me disse: Nossa, que gari lindo! Eu só agradeci e fui embora. Essa não é a minha praia mesmo”. Os coletores confirmaram, rindo, que Cícero é o campeão de cantadas, por ser o mais bonito deles.
O grupo também conta como é a relação com os moradores de rua.
“Eles conversam com a gente, tratam a gente bem e vão embora. Nós vemos pessoas se drogando, eles ficam na deles e a gente na nossa”.
Depois de quase meia hora de conversa, João e Manuel estavam mais descontraídos, falando mais, e Cícero a essa hora já estava até fazendo poses para as fotos. Mesmo com a vida difícil, o grupo parece estar sempre animado e sorridente. Quando nos despedimos eles variam a rua 15 de Novembro perto da Igreja Santo Antônio. Mais uma intensa noite de trabalho estava começando.

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